Nasci na Paulicéia Desvairada, a mesma da Rita Lee. Diferente da Rita, não costumo transgredir, apenas, ousar. Eu já quis ser bailarina: ainda guardo as sapatilhas de ponta. Na memória, muitos rodopios. Gosto de música clássica com uma queda previsível por “A morte do cisne” de Saint Saens. Quando fecho os olhos me transformo no cisne. Mais tarde, cogitei ser atriz. Queria ser muitas mulheres, viver muitas vidas.
O cinema é uma paixão antiga. Via Fellini sem entender tudo, mas guardando muito. “Os girassóis da Rússia” e “All that jazz” estão no topo da minha lista. Eu moraria num barco. Arranquei muitas risadas do meu pai na infância, insistindo em pedir para mudarmos para o Rio de Janeiro, só para ficar perto do mar.
Na cozinha me aventuro muito pouco. Sei preparar pasta, molho de tomate e sobremesa. Depois de mudar para a Bahia, ganhei a fama de fazer um vatapá excepcional.
O arquétipo feminino se ajusta muito bem em mim. O sonho de ser mãe foi realizado com sucesso. Na adolescência, para onde ia levava meu violão. A vida adulta silenciou este lado e depois de anos de trabalho na área da saúde, aqui estou eu no mundo das artes.
A fotografia se expandiu para as artes visuais e continua me empurrando para contar histórias através das imagens. Adoro capturar uma cena, um acontecimento qualquer que marca a passagem do tempo: a vida que não se repete. Assim como também sei fabular para expressar meu mundo mais íntimo.
As fotos de família sempre foram uma grande paixão que, ao longo do tempo, cresceu para abraçar também fotos encontradas. Nessas antigas imagens encontro a matéria prima que preciso para alimentar minha criatividade.
Sinto uma atração irresistível por trabalhar com as mãos. Quando mergulho num projeto de bordar fotografia ou tecido, ou faço uma colagem é como se o mundo à minha volta se apagasse. Vou tecendo minha história como numa cena de filme, só e em silêncio.
Nasci na cidade de São Paulo com coração nordestino. Sou fruto da união entre dois jovens que migraram para a capital paulista em busca de uma vida melhor, na década de 1950. Francisca e João se conheceram no ambiente de trabalho e eu cresci no caos da metrópole, rodeada de todo afeto, lembranças e ritmos cultivados pelo meu pai sobre o seu saudoso Sertão, em Piritiba, Bahia. Nessa mestiçagem cultural desenvolvi certo fascínio pelas manifestações religiosas em suas pluralidades. Todavia, foi o contato com o invisível – presente nas religiões de matriz africana, durante a adolescência e ainda em São Paulo – que me marcou profundamente, reverberando em meu atual interesse em fotografar as festas religiosas tão intensas em Salvador e no Recôncavo Baiano. Aos oito anos de idade visitei a Bahia com meus pais e, na ocasião, fotografei um bezerro no curral da fazenda de um tio e o resultado contraluz da imagem me tomou de assalto, tanto como espanto quanto interesse profundo. Talvez ali tenha se desenhado a esperança, que em mim cumpre um caminho tripartido: primeiro como uma virtude teologal, depois como sentimento, mas também uma ligação afetuosa com a cidade Esperança, interior da Paraíba, onde minha mãe cresceu. Casei-me por amor e querer, fortalecendo meus laços com a nordestinidade uma vez que meu marido também é baiano. Mudamo-nos para Senhor do Bonfim, no interior da Bahia, em 1986 e, após sete anos, chegamos a Salvador, onde moro e trabalho. Hoje, o interesse pela religiosidade ainda é uma tônica e, além dele, iniciei um processo de escuta e reflexão sobre o tempo que me conduz a pensar visualmente a família e as memórias dela advindas – algo que entendo estar presente desde a contação de histórias por meu pai. Por outro lado, também percebo o avançar da idade como um dos fatores que me desperta para a necessidade de reter momentos, impedir seus apagamentos e/ou esvanecimentos: revistar, analisar e manipular as imagens mantém viva a minha esperança.
Venho de uma relação intensa com a fotografia registrando manifestações culturais na cidade de Salvador, Bahia, principalmente eventos de cunho religioso. Hoje a fotografia para mim é meio e não fim último de expressão artística.
Arquivos pessoais e encontrados, assim como fotografias órfãs, são fonte inspiradora para utilizar técnicas como colagem analógica, cianotipia, bordado em fotografia e intervenções outras como as destrutivas, incluindo a criação de objetos a partir de fotografias ou com elas.
O ponto de partida é uma busca pessoal de autoconhecimento que me leva a investigar álbuns de família para reconstruir e compreender minha história e dos meus antepassados, que encontra muitos pontos de intersecção com as muitas histórias que povoam o mundo.
Além da ancestralidade, o elemento feminino pulsa e se destaca em meio às narrativas que partem do meu olhar de filha, mãe, avó e companheira.
Uma das minhas linhas de pesquisa esmiuça a finitude da vida e a consequente e inevitável despedida dentro da complexidade da relação com minha mãe. Pesquisar e estudar as intrincadas relações da sociedade contemporânea com a morte move o meu fazer artístico.
Embora as tintas do feminino prevaleçam, meu objetivo é instigar em todos os gêneros o desejo de refletir sobre a finitude da vida e como lidamos com ela.
EXPOSIÇÕES COLETIVAS
2024/08 Exposição Oltre lo specchio (Além do espelho) — curadoria Madame Pagu
2024/08 Salvador Foto Clube — Exposição Movimentos, Teatro Gregório de Mattos, Salvador—BA/Brasil
2024/08 – JÁ TOMBEI! Exposição de lambe-lambe para compor as paredes do MUDDA – Museu do Depois do Amanhã, Goiânia —GO/Brasil, do Desarquivos Coletivo Feminino de Arte formado pelas artistas Madame Pagu, Nayara Rangel, Ulla von Czékus e Vania Viana https://www.mudda.com.br/jatombei
2024/03 – Exposição DESarquivos – práticas de invenção, vida e parentesco, com curadoria de Fábio Gatti, do DESarquivos Coletivo Feminino de Arte formado pelas artistas Madame Pagu, Nayara Rangel, Ulla von Czékus e Vania Viana, Festival de Fotografia de Tiradentes—MG/Brasil
2024/03 – Exposição DESarquivos – práticas de invenção, vida e parentesco, com curadoria de Fábio Gatti, do DESarquivos Coletivo Feminino de Arte formado pelas artistas Madame Pagu, Nayara Rangel, Ulla von Czékus e Vania Viana, Ativa Atelier Livre, Salvador—BA/Brasil
2023/04 Museu Carlos Costa Pinto — Exposição Um lugar onde tudo é possível, Salvador—BA/Brasil
2022/11 Festival Foto Rio 2022 — Exposição Vento Vai, Vento Vem, Casa da Escada Colorida, Ateliê Oriente, Rio de Janeiro—RJ/Brasil
2022/10 Med Photo Fest 2022 — Exposição A arte do encontro, Monasteri dei Benedittini, Catania—Sicilia/Itália
2022/09 Festival Paraty em foco — Exposição Vento Vai, Vento Vem, Casa PEF Klink, Ateliê Oriente, Paraty—RJ/Brasil
2022/08 Palacete das Artes Museu Rodin — Exposição Cotidianos para guardar Bahia, Salvador Foto Clube, Salvador—BA/Brasil
2022/02 Ativa Atelier Livre — I Mostra de processos criativos do Ativa Atelier Livre: Amor, força e arte, Salvador—BA/Brasil
2021/10 Festival de Fotografia Paraty em Foco — Exposição Selfie em foco, Paraty—RJ/Brasil
2021/08 Galeria Eixo Arte — Exposição virtual Yê Yê Omo Ejá (Mãe cujos filhos são peixes), Niterói—RJ/Brasil
2021/02 Galeria Fragmentos do Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana — Exposição Yê Yê Omo Ejá (Mãe cujos filhos são peixes), Salvador—BA/Brasil
2020/10 Galeria Eixo Arte — Terceira coletiva Eixo 2020 (mostra virtual), Niterói—RJ/Brasil
2020/08 Exposição virtual Agosto das Artes 2020, Doc-Expõe, Salvador—BA/Brasil
2020/02 Capela do Museu de Arte Moderna da Bahia — Exposição Salvador do povo, de Lina e de todos os santos, Salvador—BA/Brasil
2020/02 Museu de Arte Moderna da Bahia — Exposição Cores, Amores, Recantos... Bahia, Salão Principal do Casarão, Salvador—BA/Brasil.
2019/11 Fundação Gregório de Mattos — Exposição Baianas: iê acarajé, iê abará, Salvador—BA/Brasil
2019/08 Museu Rodin — III Mostra Agosto das Artes, Palacete das Artes, Salvador—BA/Brasil
2018/11 Galeria Claudio Colavolpe Photo Art — Exposição Mar da Bahia, Salvador—BA/Brasil
2018/08 Galeria Claudio Colavolpe Photo Art — Exposição Caminhos do Sertão, Salvador—BA/Brasil
2017/09 Universidade Estadual de Feira de Santana — Um olhar além do sorriso, Feira de Santana—BA/Brasil
CONCURSOS E PREMIAÇÕES
2025/03 Selecionada para mostra de portfolio no Festival de Fotografia de Tiradentes
2024/10 Selecionada para leitura de portfolio no 2º Festival Mulheres Luz, São Paulo/ SP/ Brasil
2023/07 Foto selecionada na XXIII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em cores
2021/07 Foto selecionada na XXII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em cores
2019/07 Foto selecionada na XXI Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em cores/ julho de 2019
COLEÇÕES
Mediterraneum Collection, Catania—Sicilia, Itália
Academia de Letras da Bahia, Salvador, BA, Brasil
PUBLICAÇÕES
2024/10 Revista Mulheres Luz, Edição Memória; São Paulo/SP/Brasil
2022/08 Livro Cotidianos para guardar Bahia, Salvador Foto Clube, Editora Sobregentes
2022/08 A Casa Revista, edição 3, Apropriações. Publicação digital de A Casa Foto Arte; Série Ainda Paisagem/ www.acasafotoarte.com/a-casa-revista
2021 Fotolivro Submersa, Editora Origem
2021 Sotaques Salvador, Editora Sobregentes/Mãe Dete
2020 Arte Gente, Editora Sobregentes
PALESTRAS E RODAS DE CONVERSA
2024/05 Conversa com DESarquivos Coletivo Feminino de Arte, no programa Entre nós, Salvador Foto Clube
https://www.youtube.com/live/mS_SeIH6txI?si=RqU9IeSxWtzmT9ph
2024/03 Arquivos e Adoções de Fotografias, Roda de conversa do DESarquivos Coletivo Feminino de Arte formado pelas artistas Madame Pagu, Nayara Rangel, Ulla von Czékus e Vania Viana; e as artistas do grupo Arquivo ACHO, Festival de Fotografia de Tiradentes/ MG/ Brasil
2024/03 Roda de conversa Casa Fototech Tiradentes, pelo DESarquivos Coletivo Feminino de Arte formado pelas artistas Madame Pagu, Nayara Rangel, Ulla von Czékus e Vania Viana, Festival de Fotografia de Tiradentes/ MG/ Brasil
COLETIVOS, ASSOCIAÇÕES E FOTOCLUBES
DESarquivos Coletivo Feminino de Arte https://www.desarquivos.com
Moiras Coletivo de Arte Postal
Roda das Artes https://www.instagram.com/coletivorodadasartes/
Salvador Foto Clube https://instagram.com/salvadorfotoclube/