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UMA FLOR DO LADO

O álbum do meu casamento – e arrisco pensar que também o de muitas outras pessoas – me acompanha em todas as etapas da vida. Levo-o comigo física e simbolicamente. Ele se mudou conosco de Estado e, consequentemente, de cidade; passou por diferentes casas; esteve próximo em todas as transformações da vida do casal. Ora no móvel da TV, ora na estante do escritório, depois no armário do quarto ou na gaveta da cômoda. O seu endereço cambiável não me impede de acessá-lo. Há, sempre, um modo de revisitar aquele grande dia, de angariar novas histórias, de reacender algumas brasas e de refletir sobre as transformações em nós.
A vida é feita de muitas coisas, principalmente de ritos. Eles indicam alguma curva acentuada que leva para outro lugar. Entrei pela acentuação da estrada em busca do desejo. Mais do que isso: pela sua realização. De quantas maneiras um desejo se realiza? Qual sua forma? Na estrada avistei Uma flor do lado e, com ela, juntei as imagens desse álbum vivo tanto em mim quanto em suas próprias páginas, cujas fotografias duplicaram-se e se sobrepuseram ao longo do tempo. As páginas de papel manteiga, antes divisões entre uma foto e outra, tornaram-se elas mesmas – por puro desejo – uma mistura entre a imagem anterior e a posterior. Sem fronteiras, o álbum agora mostra que é mais que um conjunto de registros de momentos ritualísticos, ele é a experiência da memória em si, viva, movediça, gordurosa.
Nenhuma fotografia está sozinha ao contar uma história, celebrar um momento, demarcar um evento. As imagens espectrais dessa união matrimonial, decalcadas pelo desejo, carregam a alma feminina de uma noiva que não quer desaparecer. Devolvi o álbum à caixa no maleiro. Qualquer dia eu volto.

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