BONFIM

O Cristo crucificado está comigo desde sempre. Na infância, as missas semanais repletas de ícones, mergulhados no silêncio cortado pelos louvores, me fascinavam. Conheci muitas devoções: Nossa Senhora Aparecida, Bom Jesus de Pirapora, o Divino Pai Eterno. Na vida adulta, deixei São Paulo para trás e escolhi  Salvador para morar. A ligação com a religiosidade do povo baiano presente  em cada detalhe da festa, foi imediata. Na pureza da cor branca que se estende em tapete na procissão; nas flores, tantas e também singelas, espremidas no calor do caminho por mãos desatentas, às vezes esquecidas de agradecer. Nos passos firmes das baianas, cumprindo seus propósitos de fé. Saias que embalam muitos pedidos. A saúde, o emprego, a volta do amor perdido. O Senhor do Bonfim aguarda a todos no alto da Colina Sagrada e as mãos já libertas do madeiro se estendem. Não há limites para esta devoção.No caminho,  a emoção aqui e acolá transborda pelos olhos. O hino. Ah, o hino: “Dai-nos a graça divina”. Como resistir ao chamamento que decerto vem do Alto. “ Pedi e obtereis”, Ele mesmo sugeriu. Aqui estamos: Olhai por nós.